Pouquíssimos sites de fãs resistiram ao teste do tempo desde o final do século XX até hoje. Muitos desapareceram porque eram hospedados em domínios gratuitos que eventualmente foram encerrados, enquanto outros simplesmente deixaram de ser atualizados. No entanto, alguns permanecem vivos e relevantes graças à qualidade de seu conteúdo — e por essa razão, ainda mantêm reconhecimento e importância.
Naquela época, havia fóruns de discussão como o Google Groups e o Yahoo Groups. Acredito que foi em um desses espaços que encontrei pela primeira vez o trabalho de Miguel Sala, autor de:
http://eltonjohnallsongslist.blogspot.com/?m=0
Entre os centenas de sites de fãs de Elton John, o de Miguel se destacava claramente pelos artigos. Enquanto a maioria dos sites focava em galerias de fotos ou resumos breves da carreira de Elton, o blog do Miguel ia muito além disso. Lá, encontrávamos entrevistas, pesquisas detalhadas e análises aprofundadas — um nível de conteúdo que se destacava dos demais.
É uma verdadeira honra falar com você, Miguel Sala. Quero aproveitar esta oportunidade para dizer que grande parte do trabalho que faço hoje sobre Elton John foi profundamente inspirado pelo que vi no seu blog. Conteúdo — essa é a palavra-chave para descrever o valor do seu trabalho. Então, sim, posso dizer honestamente que você me influenciou. Acredite.
Nesta entrevista, escolhi um caminho diferente: em vez de enviar todas as perguntas de uma vez, enviei uma a uma. Dessa forma, cada nova pergunta foi moldada pela resposta anterior do Miguel, criando uma dinâmica quase “ao vivo” e adicionando mais espontaneidade à conversa.
Para começar esta entrevista, gostaria de evitar o óbvio. Em vez de seguir uma ordem cronológica, vou inverter a linha do tempo e começar com alguns temas atuais. Eu realmente não gosto de ser previsível, haha.
Recentemente, vi o novo projeto do Elton com a banda Spinal Tap, e gostaria de ouvir sua opinião sobre isso. Pessoalmente, não gostei muito (risos), especialmente porque repete o mesmo padrão de Elton não ir solo — sempre se juntando a outro artista para um lançamento.
Miguel Sala: Muito obrigado pelas suas palavras gentis. A verdade é que todos nós encontramos inspiração em algum lugar — no meu caso, veio de fanzines como East End Lights e Hercules. Eu devorava os artigos de Claude Bernardin, Liz Rosenthal, John F. Higgins, George Matlock, Stephan Heimbecher e especialmente Jim Turano — um verdadeiro mestre em todos os sentidos — assim que a revista chegava em minha casa.
Com o tempo, alguns desses escritores se tornaram colaboradores do Allsongslist, o que me ajudou a aprender e me motivou a continuar. Mas, para ser honesto, criar um site como o seu sempre foi um sonho que eu nunca consegui realizar completamente. Então, quando você me pediu esta entrevista, eu disse sim imediatamente — e sou realmente grato pela oportunidade.
Sobre as colaborações, acho que elas sempre foram uma constante na carreira de Elton John, cada uma com seu charme especial. Embora eu não colocasse Stonehenge no mesmo nível das colaborações dele com Eminem, Stevie Wonder, Axl Rose, Lady Gaga, Little Richard, Leon Russell ou Brandi Carlile — só para citar alguns — vê-lo com o Spinal Tap foi definitivamente surpreendente. Isso me lembrou da capacidade de Elton de se conectar com outros artistas e sempre fazer isso de forma brilhante, com seu estilo único — às vezes até melhorando as músicas originais e levando-as a outra dimensão... É o Elton! Hahaha

Robson Vianna: A principal característica de Elton John, na minha opinião, é sua capacidade de nos surpreender constantemente — ele é um verdadeiro camaleão musical. E, honestamente, nunca tive problema com essas mudanças de estilo, porque sou extremamente eclético quando se trata de música. Posso ouvir James Dio cantando Holy Diver (e sim, alguém uma vez me disse que a introdução ambiente soa exatamente como Funeral for a Friend) tão facilmente quanto gosto de Boogie Nights do Heatwave ou Perry Como cantando And I Love You So. Então, não — definitivamente não sou conservador, haha.
Elton também é um universo próprio quando se trata de criar conteúdo. Você explorou isso brilhantemente em seu blog. Poderíamos falar sobre ele da cabeça aos pés — literalmente! Desde a perda de cabelo e os transplantes capilares (ei, isso é uma boa ideia para um artigo!) até os sapatos extravagantes que ele usava nos anos 70.
Essa nova parceria me lembra aquelas mudanças musicais que podem dar muito certo... ou fracassar completamente. Lembro das Thom Bell Sessions — tudo parecia indicar fracasso. Consigo imaginar Bernie Taupin no estúdio com uma expressão que dizia: “Isso não tem nada a ver com o nosso trabalho.” E, no entanto, funcionou! Por outro lado, eu pessoalmente achava que Heartache All Over the World seria um sucesso... e absolutamente não foi.
Agora, continuando com a entrevista — vamos para a próxima seção:
Histórias, momentos dos bastidores e análises sobre Elton:
Pergunta 1: Ao pesquisar entrevistas com músicos que trabalharam com Elton — como Charlie Morgan ou Nigel Olsson — quais histórias ou revelações mais chamaram sua atenção?
Miguel Sala:
Havia uma seção chamada "Entrevista com os Ídolos", onde tive a chance de fazer 25 entrevistas com várias pessoas ligadas ao Elton. Tenho tantas lembranças, de verdade. A última foi uma entrevista incompleta com Paul Buckmaster — sua morte me chocou profundamente. Ele era uma pessoa maravilhosa e sempre muito gentil comigo. Falamos sobre suas origens, suas influências...
Outras perdas dolorosas e sentidas foram as de Bob Birch e Guy Babylon, ambos contribuíram para o meu blog. Birch, por exemplo, me contou certa vez o quanto admirava o trabalho do falecido Dee Murray:
“Ninguém jamais poderia substituir Dee. Aqueles eram os seus baixos que faziam as músicas serem o que eram. Eu só queria tentar reproduzi-los. Eu poderia tocar minhas próprias coisas, mas para mim, aquelas linhas de baixo na gravação fazem parte da música. Não acho que havia qualquer pressão... é apenas o respeito de tocar a coisa certa.”
Lembro com carinho do filho de Guy, meu querido Ben Babylon — um jovem tão talentoso, gentil e bem preparado, que já é e continuará sendo alguém a se observar. Ele me lembra muito o pai, mesmo tendo sua própria personalidade. Nunca vou esquecer a sessão de piano que ele dedicou a mim quando nos encontramos. Existem momentos na vida que simplesmente devem ser vividos, e fiquei impressionado com a qualidade musical de um jovem tão jovem (ele tem 27 anos agora).
Também guardo com carinho a memória das melhores backing vocals — na minha humilde opinião — que já cantaram com Elton John: Mortonette Jenkins, Marlena Jeter e Natalie Jackson (aka Kudisan Kai). Kudisan me contou o significado do seu “novo” nome:
“Kudisan significa ‘você é abençoada, ou sagrada, ou sortuda’. Kai significa ‘você é amada’. A pessoa que me deu esses nomes me disse que eu devo sempre lembrar disso.”
Marlena me disse:
“A ética de trabalho naquela organização é algo que eu respeito muito, e aprendi muito durante meus 7 anos fazendo parte de tudo aquilo. Toda a experiência ‘Elton John’ foi transformadora para mim, e sempre vou valorizar aquelas experiências daquele período da minha vida.”
E Mortonette — uma das três mulheres maravilhosas, como eu as chamei — compartilhou como funcionavam os ensaios da turnê:
“Meses de ensaios acontecem antes de você sequer pegar a estrada, horas e horas de ensaio para entregar ótimas performances a todos. Os arranjos são feitos com Elton, Davey, e então os outros caras tocam e tocam até a perfeição. Depois Davey nos passa as partes de apoio para aprendermos que acompanham os arranjos que já aperfeiçoaram. Nós então aperfeiçoamos nossas partes — e os ensaios reais começam. Elton é muito exigente e não aceita nada menos que a perfeição nos ensaios ou nas apresentações.”
Elas eram todas artistas maravilhosas e divas únicas e talentosas.
Também adorei entrevistar David Paton, que me contou sobre trabalhar no estúdio com Elton:
“Eu estava no estúdio afinando meu baixo quando Elton apareceu. Ele disse olá e sentou ao piano. Eu estava afinando meu baixo sem trastes na época e Elton começou a tocar uma sequência de acordes. Toquei junto com ele por cerca de 20 minutos. Ele parou e disse ‘acho que você pegou’. Os acordes que ele estava tocando eram para ‘Nikita’.”
Ou John Jorgenson — um verdadeiro cavalheiro — que, quando perguntei sobre o que Elton certa vez disse dele (“Você tem a reputação de tocar tudo, menos a pia da cozinha”), respondeu:
“Sim, eu toco muitos instrumentos! Geralmente quero aprender a tocar algo se gosto do som... Também ficava entediado na banda da escola quando era jovem e queria tocar diferentes instrumentos para tornar tudo mais divertido e interessante para mim. Comecei a tocar bouzouki no palco com meu quinteto, e é um instrumento que eu queria tocar há muito tempo.”
Ou Charlie Morgan, quando falamos sobre sua estreia com Elton — no Live Aid 1985 — ele disse:
“Sim, o sistema de monitor caiu na primeira música e eu só olhava para o pé do EJ batendo no ritmo.”
Ou Jody Linscott, sobre estar grávida durante a longa turnê e sessões no estúdio:
“Eu estava muito grávida durante a maior parte da turnê e durante a gravação daquele disco na Europa, e minhas lembranças são dele de bom humor. Não me lembro de nada além de momentos agradáveis, embora eu tenha tido que sair cedo para ter o bebê. As coisas podiam ser turbulentas na turnê às vezes... mas no estúdio, ele parecia confortável. Ele e Gus pareciam se divertir juntos. Gus era ótimo.”
Sobre Cidny Bullens (na época Cindy Bullens) e a fundação que ela criou em homenagem à filha:
“A Jessie Bullens-Crewe Foundation (e o Jessie Fund) ajudam crianças com câncer e suas famílias de qualquer maneira que pudermos.”
Ou sobre a infância de Billy Trudel:
“Sempre fui fã do Elton. Quando eu estava no ensino médio, tinha aula de teatro e tive que fazer uma pequena peça ao vivo. Então minha peça ao vivo foi me vestir como Elton e apresentar ‘Bennie and the Jets’.”
E da banda atual, nunca vou esquecer a entrevista com John Mahon, que compartilhou:
“Meu pai me levou para entrar no Police Boys Club Drum and Bugle Corp e eu tive que escolher entre trompete ou bateria... bem... fácil demais! Depois entrei na banda da escola, de concerto e de marcha — tocava a caixa — era o mais legal porque você mantém o ritmo. O condutor, por assim dizer.”
Ou Kim Bullard, que entrevistei logo depois que ele começou a ensaiar com a banda. Ele falou sobre Guy:
“O bom de ter o Guy antes de mim foi que ele levou as partes de teclado para as músicas do Elton a um nível muito alto. Ele fez esse trabalho por muito tempo. Eu pude usar essa experiência, e adicionar meus próprios toques conforme avançava. Se eu brilho lá em cima, é porque ele abriu o caminho.”
E como Bob Birch o ajudou:
“Bob também foi uma enorme ajuda; ele me acompanhava o tempo todo para garantir que eu tivesse tudo o que precisava.”
E tantos outros: Katy Rose, Stjepan Hauser, Stuart Epps, Catherine Britt… Incrível. Fico emocionado só de lembrar de tudo. Tanto trabalho, tanta gratidão.
No final de cada entrevista, eu sempre incluía dois convidados que diziam algumas palavras sobre o entrevistado — tudo muito comovente. Que maravilhoso que tudo isso permanece, e que todos podemos compartilhar...
Robson Vianna Pergunta 2: Ao investigar as sessões de estúdio e turnês mais turbulentas — como durante o álbum Leather Jackets ou a crise vocal do Elton em 1986 — quais impressões você obteve daqueles que estiveram presentes?
Miguel Sala and Bernie Taupin
Miguel Sala:
Esses foram claramente tempos complicados. Várias pessoas que entrevistei lembraram desse período com uma mistura de carinho e exaustão. As sessões de Leather Jackets, em particular, foram mencionadas algumas vezes como difíceis — não apenas pela música, mas pelo estado pessoal do Elton na época. Alguns disseram que havia uma espécie de nuvem pairando sobre as sessões — emocionalmente e criativamente.
E claro, 1986 foi especialmente difícil para Elton. A crise vocal dele foi um ponto de virada. Muitos o viam como invencível, e de repente ele foi forçado a encarar uma limitação física. Acho que para as pessoas ao redor dele, foi um momento de sobriedade. Houve medo — não apenas sobre se ele conseguiria cantar novamente, mas também sobre como isso afetaria tudo que tinha sido construído até então.
Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que os anos 80 foram uma era musical muito diferente. Mesmo que Elton continuasse lançando pelo menos um sucesso por ano — e alguns foram enormes, como Nikita ou I’m Still Standing — ele estava, de certa forma, desalinhado com as tendências dominantes do pop-rock.
O som dos anos 80 estava sendo moldado pelo new wave, synth-pop, estética da MTV e artistas mais jovens que representavam uma nova geração. Elton, em contraste, vinha de uma tradição de composição dos anos 70 mais centrada no piano, mais introspectiva em alguns aspectos.
Mas para mim, Live in Australia colocou Elton de volta ao seu melhor absoluto:
“Quer sintetizadores? Então eu trago uma orquestra.” Esse álbum é incrível.
O que mais me chamou atenção nos depoimentos que recolhi foi o respeito que todos tinham por ele. Mesmo nos momentos mais turbulentos, todos os músicos com quem falei admiravam sua resiliência, seu profissionalismo e sua capacidade de continuar, mesmo quando a estrada ficava extremamente difícil.
Robson Vianna Pergunta 3: Entre tantas músicas, álbuns e eras na carreira de Elton, quais histórias ou curiosidades menos conhecidas você acha mais fascinantes?
Miguel Sala:
O que torna Elton John tão fascinante é sua habilidade de se reinventar constantemente sem perder sua identidade. Ele é um verdadeiro camaleão — do glam rock dos anos 70 ao pop dos anos 80, de baladas intimistas a colaborações modernas, ele sempre se adaptou e até antecipou tendências. Sua discografia imensa e consistente, com álbuns lançados quase todos os anos por décadas, reflete uma paixão e dedicação raras. Sua parceria criativa de longa data com Bernie Taupin produziu canções icônicas e continua sendo uma das colaborações mais duradouras da música. A voz de Elton também evoluiu após a cirurgia vocal no meio dos anos 80 — tornando-se mais profunda, mas igualmente poderosa. Além da música, seu compromisso com causas sociais, especialmente a luta contra a AIDS, mostra sua generosidade. Seu estilo teatral — os óculos, as roupas — tornou-se parte de sua assinatura artística. Ele pode se apresentar com Ray Cooper em um dueto minimalista, com uma orquestra completa, uma banda de rock ou artistas pop modernos — e em todos os casos, ainda soa como Elton. Ele abraçou gospel, reggae, disco, blues, country… e sempre fez tudo à sua maneira.
Robson Vianna Pergunta 4:
Elton John sempre teve um estilo muito único de compor. Em certos vídeos, é possível ver claramente como seu processo criativo flui naturalmente — ele se senta ao piano, e a inspiração simplesmente vem.
Em seu álbum mais recente, notei novamente uma característica marcante das letras de Bernie Taupin — o que eu chamaria de uma abordagem patchwork. Ele junta versos escritos separadamente ao longo do tempo em uma única letra de música. Isso não é novidade para ele; ele já havia feito algo semelhante na época de Take Me to the Pilot.
Musicalmente falando, vários artistas usam esse tipo de método. Paul McCartney, por exemplo, costuma criar pequenos fragmentos musicais e guardá-los. Depois, ele combina esses fragmentos para construir uma faixa completa. Um ótimo exemplo é Under Pressure, a colaboração entre Queen e David Bowie. Cada um entrou em salas separadas, criou ideias aleatórias e depois juntaram tudo — e funcionou.
Elton, por outro lado, nunca compôs realmente desse jeito. Ainda assim, ao longo dos anos, conhecemos muitos “Eltons” diferentes, cada um com uma abordagem distinta para compor. O Elton de 1971 definitivamente não é o mesmo do Elton de 1982.
Isso leva a uma pergunta interessante: essas mudanças aconteceram por causa dos diferentes letristas que escreveram para ele, ou foi uma escolha deliberada — tanto dele quanto deles — para se adaptar e subir nas paradas?
Miguel Sala:
Elton John é um artista em constante evolução, e isso fica claramente refletido em sua abordagem à composição ao longo dos anos. Mais do que simplesmente mudar para se adaptar ao mercado ou influências externas, acredito que essas mudanças em seu estilo vêm de uma combinação de fatores: sua própria maturidade artística, a colaboração com diferentes letristas e o desejo de explorar novas formas de expressão. Bernie Taupin, por exemplo, tem essa técnica “patchwork” que adiciona uma dinâmica especial às letras, como um quebra-cabeça construído a partir de fragmentos escritos em momentos diferentes. Isso torna as músicas mais ricas e menos lineares, e é uma ferramenta que ele usou ocasionalmente, mas com muita eficácia.
Musicalmente, Elton nunca seguiu um sistema fixo, mas evoluiu conforme seu estado criativo e o contexto do momento. Essa habilidade de se reinventar — do som cru e enérgico dos seus primeiros dias até a sofisticação e experimentação de seus últimos álbuns — faz com que cada era tenha sua própria personalidade distinta. Assim, as diferentes “versões” de Elton John não são apenas resultado dos letristas com quem ele trabalhou, mas também da sua própria vontade artística. Acredito que ele sempre foi fiel à ideia de crescimento e surpresa, em vez de simplesmente seguir as tendências do mercado.
Robson Vianna Pergunta 5:
Quando um artista contrata um músico do calibre de Davey Johnstone — ou outros guitarristas como Nik Kershaw (em Act of War) ou Steve Lukather (em Heart in the Right Place) — e esse músico cria um solo ou parte instrumental que se torna tão vital quanto a própria música, eles não deveriam ser considerados coautores?
Saturday Night’s Alright (for Fighting) seria tão poderosa se seu icônico solo de guitarra e a seção rítmica — criados por Davey Johnstone — tivessem sido feitos por outro guitarrista? A contribuição de Davey não o qualifica como coautor da canção?
Eu chamo esse fenômeno de “o terceiro elemento” — quando uma performance ou arranjo se torna tão integral à identidade de uma música que transcende sua composição original.
Isso também poderia se aplicar às versões originais de Grey Seal e Skyline Pigeon, que depois foram reinventadas e aprimoradas pelo produtor Gus Dudgeon? Elton John com Gus Dudgeon é o mesmo Elton John sem ele?
Essas são perguntas que valem a pena ser feitas quando consideramos a verdadeira natureza da autoria na música.
Miguel Sala:
O terceiro elemento? Sim, absolutamente. Quando um músico como Davey Johnstone contribui com um solo ou parte instrumental distinta que se torna inseparável da identidade de uma música, sua contribuição vai muito além da simples performance. Ela molda a própria essência da faixa, elevando-a a algo único e inesquecível.
Pegue músicas como Saturday Night’s Alright (for Fighting), I Guess That’s Why They Call It The Blues ou Grow Some Funk of Your Own; a energia e o som icônicos da guitarra de Davey estão tão profundamente enraizados nessas faixas que é quase impossível imaginá-las sem a participação dele. Esse tipo de colaboração criativa desfoca as linhas da autoria, tornando justo reconhecer esses músicos como co-criadores.
Da mesma forma, o trabalho transformador de produção de Gus Dudgeon em músicas como Grey Seal e Skyline Pigeon adiciona camadas que redefinem as composições originais. A parceria entre Elton John e Gus é um exemplo perfeito de como a produção e o arranjo se tornam parte essencial da voz de um artista.
Na música, a autoria nem sempre é só sobre quem escreveu a letra ou a melodia básica. Também envolve aqueles elementos vitais — o terceiro elemento — que dão vida a uma música e lhe conferem personalidade.
Robson Vianna Pergunta 6: Quais são seus planos para o futuro do blog — novas séries de entrevistas, mais interação com fãs, expansão de conteúdo, ou algo mais em que você esteja trabalhando?
Miguel Sala:
Não sei por que, mas tenho a sensação de que algo muito importante está chegando com Elton John. Não consigo explicar direito, mas não acho que seja coincidência que o AllSongsList esteja surgindo agora. De qualquer forma, vamos seguir passo a passo e deixar o caminho se desenrolar naturalmente.
Planos? Novos segmentos, claro. E muita interação com os Eltonites — sinto que esse é o espírito do blog: a conexão entre nós e Elton John.
Sinto-me extremamente grato por tudo que o blog me trouxe até agora — as conexões, as histórias, a confiança de tantas pessoas incríveis que colaboraram com Elton. Nunca imaginei que isso se tornaria algo tão significativo.
Temos muitos projetos em andamento: o Comitê de Especialistas para discutir e compartilhar insights mais profundos, e também estou trazendo de volta o segmento Quatro de um Tipo.
Outra paixão minha é o mundo da coleção, então estamos desenvolvendo uma seção chamada Re-coletando. Vamos explorar esse universo e as peças raras e bem preservadas que muitos de nós temos em casa relacionadas a Elton.
Também estamos focando mais nas Aventuras do Jack Rabbit, que tem uma lista de lugares para descobrir e compartilhar histórias.
Quero também dedicar tempo para destacar os muitos músicos talentosos que trabalharam com Elton e Bernie — eles são uma grande parte do que torna a música tão especial, e, honestamente, é importante que não os esqueçamos. É exatamente para isso que serve a seção Entrevista com os Ídolos.
Finalmente, estou trabalhando em outra surpresa que tenho certeza que vai se concretizar.
Robson Vianna Pergunta 7:
Seu blog parece uma verdadeira obra de arqueologia musical — descobrindo fatos raros, histórias esquecidas e camadas ocultas no vasto catálogo de Elton John. Ao longo dos anos, você encontrou alguma descoberta em sua pesquisa que realmente te surpreendeu ou mudou a maneira como você vê certas músicas ou álbuns? E como você costuma verificar e escolher o que vale a pena compartilhar com seus leitores?
Miguel Sala:
Obrigado pelas suas palavras gentis, Robson. Cada um de nós tem um tesouro escondido — seja uma memória, uma experiência ou um objeto. O que a arqueologia faz é recuperar esses tesouros e dar-lhes vida e rigor; gostei muito da sua comparação.
Em minha pesquisa, frequentemente penso nas músicas que Elton gravou e que nunca viram a luz do dia. Espero um dia compartilhar a experiência de me deparar com tanto material de Elton, às vezes com pouco tempo para processar tudo — ouvir melodias, ler letras, desejar e me surpreender com títulos, e descobrir preciosidades que ficam guardadas em alguma gaveta do tempo, esperando para serem abertas.
Um projeto especial para mim foi a campanha em torno de Original Sin, música de Elton de 2001. Em 2010, lançamos uma iniciativa piloto para tentar levá-la ao número um nas paradas do Reino Unido. Foi liderada por mim, com o apoio notável de George Matlock, que dedicou um “Dia de Elton John” em seu programa de rádio, ORLA FM, e tantos fãs de diferentes países do mundo — a lista é interminável, incluindo você, haha. Embora não tenhamos alcançado o primeiro lugar, o que realmente se destacou foi a solidariedade, as palavras de incentivo, a sensação de trabalho bem feito e a alegria de pelo menos tentar — relembrando o que aconteceu com Sacrifice em 1990. Ainda guardo com carinho as mensagens e presentes dos fãs agradecendo pela iniciativa; foi muito emocionante.
Quanto a verificar o que vale a pena compartilhar, sou sempre cuidadoso. Confiro os fatos em múltiplas fontes — entrevistas, lançamentos oficiais, biografias confiáveis e conversas diretas com pessoas ligadas ao universo de Elton. Para mim, é importante manter o conteúdo preciso e respeitoso, para que os leitores confiem no que encontram aqui.
Essa jornada contínua de descobertas mantém o blog vivo e significativo, me lembrando todos os dias por que comecei — para celebrar e preservar o incrível legado de Elton John.
Miguel Sala:
Sim, acredito que estamos vivendo um tipo de reação cultural. Muitos avanços sociais — nos direitos LGBTQ+, na igualdade de gênero e na liberdade de expressão — estão agora sendo questionados ou diretamente desafiados. Mas também existe uma nova geração de artistas que não só resistem, mas respondem com criatividade e coragem. Penso em Lil Nas X, que usa a provocação e a estética para confrontar a intolerância; Billie Eilish, com seu estilo e autenticidade, rompe as expectativas impostas ao que uma artista feminina deve ser; e Bad Bunny, que, vindo do reggaeton — um gênero frequentemente marcado pelo machismo — brinca com papéis de gênero e defende a liberdade de identidade.
Elton sempre foi um contraponto a esse tipo de regressão. Ele quebrou moldes desde o começo — não apenas em termos de sexualidade, mas também em seu modo de se vestir, se apresentar e colaborar. Deixou claro que é possível ser vulnerável e teatral, masculino e emocional, extravagante e profundamente sincero — tudo ao mesmo tempo.
Então, sim, talvez estejamos vivendo um momento de regressão cultural — mas também acredito que momentos assim ressaltam o valor de figuras como Elton. Eles nos lembram que o progresso não é linear. Às vezes, a ousadia dos pioneiros do passado torna-se ainda mais essencial quando a sociedade dá um passo para trás. E é nossa responsabilidade, como fãs, estudiosos e cidadãos, manter essa chama viva.
Robson Vianna Pergunta 9: Você gostaria de falar sobre algo que está na sua mente?
Miguel Sala:
Bem, eu diria que às vezes a perspectiva que vem com o passar do tempo permite ver e apreciar muitas coisas que você gostaria de aproveitar agora. Esses últimos anos foram complicados para mim. Continuei amando Elton — fui à Farewell Tour em Nova York, Londres e Barcelona — mas cheguei a um ponto em que faltava inspiração. Senti que o melhor era dar um passo atrás: ler bastante, reunir informações e conversar com pessoas ligadas ao Elton.
Durante esse período, também tive a chance de conhecer Elton em Londres e Bernie Taupin em Nova York — momentos absolutamente inesquecíveis que jamais imaginei que poderiam acontecer comigo. Ainda assim, apesar de tudo isso, havia uma parte da minha vida pessoal que precisava de atenção. Queria dedicar mais tempo à minha filha, Júlia, e foi exatamente isso que fiz. Agora, estou voltando me sentindo renovado — original, eu diria — com muitas ideias na cabeça, e talvez este seja o momento perfeito para seguir em frente e reconectar com os leitores, compartilhando novas histórias e perspectivas que mantenham o espírito do blog vivo.
Robson Vianna Pergunta 10: Entrevistar é mais fácil do que ser entrevistado?
Miguel Sala:
Hahaha, foi estranho! Estou acostumado a ser quem faz as perguntas, nunca o contrário — então parece um pouco estranho. E aí me pego querendo me fazer perguntas de volta, como um repórter faria, haha. Posso dizer que me senti muito confortável com você.
Fiquei realmente empolgado que você tenha proposto esta entrevista — admiro seu trabalho sobre Elton, você tem um arquivo e habilidades de pesquisa que eu gostaria de ter. O que realmente agradeço, no entanto, é que através das suas perguntas, consegui lembrar de muitos momentos e experiências importantes na minha vida. Refleti e recordei muitas histórias. Para mim, isso tem sido uma experiência muito valiosa. Muito obrigado do fundo do meu coração.
Vamos continuar trabalhando por Elton — para fazer justiça ao seu legado e divulgar uma figura tão importante na história da música, que será imortal e viverá por muitos anos, especialmente se nós garantirmos isso. Muito obrigado, Robson. Um grande abraço!
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http://eltonjohnallsongslist.blogspot.com/?m=0
Vídeo Especial:
Countdown (7 de dezembro de 1980)
Apresentadores: Elton John & Molly Meldrum
Este clipe apresenta os apresentadores convidados do episódio do Countdown exibido em 7 de dezembro de 1980: o coordenador de talentos do Countdown, Molly Meldrum, e o cantor britânico Elton John, filmado em Brisbane, Queensland.
No clipe, Molly e Elton discutem a banda The Police, que Elton considera uma das melhores bandas do mundo. Eles também falam sobre alguns álbuns australianos que Elton comprou ao longo dos anos durante suas turnês na Austrália. Essa conversa leva à banda britânica Ian Dury & The Blockheads e seu single “I Want To Be Straight”.
O segmento, intitulado ‘Humdrum’, é apresentado por Molly Meldrum como de costume — note que ele aparece sem seu característico chapéu Stetson (frequentemente confundido com um Akubra), que ele só começou a usar no início a meados dos anos 1980. Durante o segmento, ele menciona vários artistas, incluindo Elton John, Rocky Horror Picture Show, Fame, Irene Cara, Dire Straits, Steely Dan, David Bowie e The Easybeats.
Molly entrevista Elton John sobre os artistas que ele comenta nesse segmento e sobre seu álbum mais recente. Além disso, é exibido um trecho de Molly entrevistando Irene Cara sobre seu single “Fame”.
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